Fim de refrigerantes em escolas

Maria Janaína Cavalcante Nunes, da Coordenação de Vigilância Nutricional da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) elogia, mas também vê com cautela a iniciativa das empresas como Ambev, Coca-Cola e Pepsi de não vender mais refrigerantes e bebidas gaseificadas em escolas.

A medida é válida para as escolas que tenham crianças de até 12 anos. As cantinas que compram diretamente das fabricantes e de seus distribuidores entraram na política, mas as empresas afirmam que haverá uma ação para sugerir que aquelas que se abastecem de outros pontos de vendas, como os atacados, também adotem a medida.

A indústria adotou a medida após aprovação pela Comissão de Seguridade Social e Família, em 13 de junho, do projeto de lei que proíbe a venda de refrigerantes nas escolas de educação básica (do primeiro ao nono ano), públicas ou privadas.

A proposta foi encaminhada à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania e segue para o Plenário da Câmara dos Deputados. Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Refrigerantes e Bebidas não Alcoólicas (Abir), desde março a entidade recomenda às indústrias a suspensão das propagandas voltadas para crianças da mesma idade, seguindo uma tendência mundial que visa contribuir com a redução de consumo de açúcar e ajudar nas campanhas contra obesidade.

A cautela demonstrada por Maria Janaína tem uma razão de ser. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) vê o acordo como um passo necessário, mas que pode ser insuficiente para reduzir o consumo de bebidas açucaradas entre as crianças com destaque para os “sucos de caixinha”.

Para Janaína, falta clareza sobre vários pontos da iniciativa, quando apontam que as empresas poderão continuar vendendo “água mineral, suco com 100% de fruta, água de coco e bebidas lácteas que atendam a critérios nutricionais específicos". “Não fica claro qual é o tipo de suco que poderá ser vendido, por exemplo”, diz a coordenadora.

Também faltam informações sobre quais serão os critérios específicos para as bebidas lácteas, tratadas como uma categoria à parte. Mesmo com suas especificidades, muitas dessas bebidas lácteas têm açúcar como nos refrigerantes.

“Apesar das várias lacunas ainda existentes, vale destacar o mérito da ação como tentativa de frear a obesidade infantil no Brasil”, declara a coordenadora de Vigilância Nutricional da SES-GO.

CRIANÇAS OBESAS

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou duas pesquisas, sendo uma a de Orçamento Familiar (POF) em 2008-2009, constatando que 14,3% das crianças entre 5 e 9 anos estavam obesas. A segunda, em 2012, da Saúde do Escolar – PeNSE, avaliou crianças com sobrepeso, sendo 16,6% entre os meninos e 11,8% entre as meninas do nono ano escolar.

Segundo Janaína, estes dados podem ser explicados pelos hábitos alimentares inadequados, como o consumo frequente de refrigerantes pelos escolares (33,2%), segundo a PeNSE. O mesmo estudo revela que 52,7% das crianças expostas à venda de refrigerante frequentavam escolas privadas e 20,3% escolas públicas.